[Especial] X-Men – Parte 2 – X2: X-Men United

“The war has begun” 

Deve ser insuportável assistir a uma sessão de X2 comigo. Eu conheço o filme de trás para frente e sei todas as falas de cor. Então eu fico dizendo qual cena virá a seguir e completo as falas dos personagens antes mesmo deles…

Observações à parte, X-Men 2 é daqueles filmes que só melhoram a cada nova revisita. É uma prova de que cinema de entretenimento não precisa ser reduzido apenas à pirotecnia, ação desenfreada e ausência de um enredo coerente e plausível. Em outras palavras, não tem que ser sinônimo de “aventura descerebrada”, como pensam muitos executivos de estúdio por aí.

Bryan Singer conquistou meu respeito e admiração com esse filme. Eu já gostava do primeiro X-Men. Mas esta segunda incursão dos mutantes no cinema é uma evolução do primeiro em todos os sentidos, em cada detalhe.

Nos anos 80, James Cameron já havia mostrado interesse em levar os mutantes para a telona, porém, com o fim da produtora independente Carolco Pictures, o projeto foi engavetado. Ainda bem, pois não poderia ser naquela época. Singer era o cara ideal para dirigir um filme dos X-Men. Ele não só compreende perfeitamente a essência das HQs como sabe traduzi-la para o formato cinematográfico, enxugando excessos, aparando arestas e escalando atores competentes que, em seus uniformes de X-Men, fazem justiça às suas contrapartes nos quadrinhos.

Ver tantos atores maravilhosos como Patrick Stewart, Ian McKellen e Brian Cox dividindo a tela é nada menos que um primor. Todos perfeitos em suas caracterizações. E já que estamos falando de boas interpretações, é óbvio que eu não posso deixar de citar Hugh Jackman que, a despeito de sua estatura – 1,90 cm – é o Wolverine.

O primeiro filme, como eu comentei no texto anterior, é uma digna introdução dos nossos heróis mutantes no cinema. Sendo bem-sucedido na apresentação daquele universo e de seus personagens ao público– apesar de poucos mutantes em campo – e esclarece bem o conflito entre Charles Xavier e Magneto. O pacifista e o xiita. Sabemos que os vilões não são apenas vilões por serem maus. E que nem os que lutam do lado dos mocinhos são exemplos de boa conduta o tempo todo, passando longe de uma narrativa maniqueísta.

X-Men 2 enriquece esse cenário, introduzindo novos mutantes, mais dinamismo, sequências de ação ainda mais eletrizantes e um roteiro inteligente e bem elaborado, que alia a aventura e o senso de diversão a um contexto político e social. O enredo reflete questões atuais e pertinentes, utilizando o debate sobre mutação genética como metáfora para a não-aceitação daquilo que é diferente. Uma alegoria precisa sobre o preconceito contra as minorias. Apesar de manter o clima dos quadrinhos, não é difícil você se pegar fazendo associações da obra com a nossa realidade, com o nosso cotidiano.

Eu gosto de quase todas as sequências, é fato. Mas tem algumas que merecem realmente destaque: a invasão do Instituto Xavier ordenada por Stryker (um cientista militar cujo objetivo é exterminar os mutantes); a sequência na casa dos pais de Bobby Drake; a perseguição ao X-Jet; Mística entrando no complexo militar no Lago Alkali; a sequência de abertura protagonizada por Noturno; e, a minha favorita, a fuga de Magneto da prisão de plástico. Todos os personagens têm seu momento – aliás, bons momentos – por menores que estes sejam.

X2 prima pela coesão do roteiro, pelas boas idéias e sacadas, cenas de ação bem coreografadas, ótimas construções de personagens e linhas de diálogos, pelo visual impecável com que Singer presenteia os espectadores. Figurino, maquiagem, cenografia, tudo é muito bem concebido e nos transmite exatamente a sensação de se estar vendo uma aventura dos mutantes já conhecidos dos quadrinhos, na telona.

Da introdução ao desfecho, o filme é brilhante. Se ele peca em algum quesito? Sim, infelizmente nem tudo pode ser perfeito. No final, quando o lago Alkali está a ponto de ser completamente inundado e os X-Men tem pouco tempo para escapar em seu jatinho estiloso (que cisma em perder potência e não funcionar naquele momento crucial em que eles precisam salvar suas vidas), vemos Wolverine tranquilamente ir atrás de Stryker para um último diálogo, o que por si só exclui a urgência da cena. E o sacrifício de uma das personagens por conta disso parece quase em vão. Embora isso renda mais uma sequência com um visual exuberante, nos dando um pequeno vislumbre de um efeito que os leitores  já achavam sensacional desde as HQs. E vê-lo na tela é um show à parte.

Há algumas decisões que não são bem explicadas ou totalmente  justificadas, mas que não chegam necessariamente a incomodar nesse grande filme de Bryan Singer.

X-Men 2 é bem roteirizado, elencado, dirigido e montado. E é incrível como uma dos momentos finais – os mutantes reunidos no gabinete do presidente dos Estados Unidos – ainda me transmita aquela mesma emoção da primeira vez em que vi o filme. E a cena imediatamente anterior aos créditos é de deixar qualquer X-Maníaco extasiado.

Ao final de mais uma sessão de X-Men 2 são lágrimas nos olhos e a certeza de que Singer foi o responsável por uma das melhores traduções de uma aventura dos nossos queridos mutunas para as telas. E, por que não dizer, uma das melhores traduções de uma aventura dos quadrinhos para o cinema?

É exatamente o que X2 representa. Pelo menos para mim 😉

E X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, felizmente, vai na mesma direção. E eu ainda não consegui tirar a cena do Mercúrio da cabeça…

Mais quatro dias para a estreia!

Andrizy Bento