Vencedores do Oscar 2015…

… ou Como eu queria estar errada

Sempre que faço minhas apostas para o Oscar, eu espero errar em grande parte das categorias principais. Sim, eu sei que depois pode pegar mal perante os leitores do blog que irão dizer “não entende mesmo lhufas de Oscar”. Mas é o fato de entender como funcionam as engrenagens da premiação máxima do cinema americano (sim, do cinema americano, afinal ela serve principalmente como veículo para promoção do que é produzido em Hollywood) que tira o grande barato da coisa. O fato de apostar e acertar a maioria dos vencedores evidencia e denuncia o padrão que a Academia costuma seguir. Aliás, uma padrão fácil de se perceber, tão público e notório que não é necessário ser nenhum especialista para antever os vencedores. Por isso eu desejo tanto estar errada. Quero ser surpreendida. Quero ver a Academia subverter os próprios paradigmas e deixar todos boquiabertos.

Mais um ano, mais um Oscar e isto não aconteceu. Vi muita gente considerando a vitória de Operação Big Hero em animação a maior surpresa da noite. Não para mim, que apostei nesta como possibilidade – uma alternativa a Como Treinar o Seu Dragão 2. Para mim, a grande surpresa foi mesmo a categoria de Montagem. Eu sabia que Whiplash tinha grandes chances, mas estava convicta de que o prêmio seria de Boyhood.

Como eu sou uma pessoa muito esperançosa, confesso que à medida em que O Grande Hotel Budapeste e Whiplash iam arrematando estatuetas, comecei a pensar: será que não marcamos bobeira e a disputa pelo prêmio mais importante da noite é entre Whiplash e Hotel Budapeste e não entre Boyhood e Birdman? Mas ao chegar às categorias de roteiro (torcendo com afinco para que os dois primeiros levassem) a Academia presenteou com mais um banho de água gelada todos aqueles que aguardavam uma surpresa, premiando Birdman em Roteiro Original (ok, é justo) e o formulaico, morno e convencional O Jogo da Imitação em Roteiro Adaptado (uma pena um roteiro tão burocrático ser premiado). Tudo previsível demais.

E Boyhood…?

Boyhood levou apenas de Atriz Coadjuvante. Richard Linklater, o melhor diretor do ano passado (em termos de cinema americano) ao lado de Damien Chazelle (Whiplash) e Dan Gilroy (O Abutre) não levou o prêmio de Direção. E Chazelle e Gilroy nem mesmo foram indicados. Nada contra o trabalho de Alejandro G. Iñarritu – acho até mesmo que Birdman é seu melhor longa – mas enquanto eu torcia para estar errada na maioria das minhas previsões (inclusive de Melhor Filme), em Direção eu torci para estar certa. Uma pena o trabalho magnífico de Richard Linklater (ótimo diretor de atores e que sabe conduzir uma narrativa com sensibilidade e precisão notáveis) não ter sido reconhecido. Ainda mais por um projeto arriscado e audacioso. E não. Não é só pelos 12 Anos.

Para completar, a cerimônia deste ano foi uma das mais mornas e sem sal da história. Sim, era difícil superar a do ano passado, mas surpreendeu negativamente a inexpressividade e o timing equivocado de Neil Patrick Harris.

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A 87ª edição do Oscar consagrou Birdman como Melhor Filme

Contudo, pela primeira vez em anos, até que o Oscar foi coerente na entrega dos prêmios. Desta vez, o melhor filme do ano, Birdman, também levou Fotografia, Roteiro e Direção. Mesmo que não tenha levado em Montagem, a premiação de 2015 não padeceu da falta de lógica como nos últimos tempos.

Outra coisa interessante é o fato de duas veteranas – realmente grandes atrizes – terem sido finalmente reconhecidas e premiadas.

Para fechar, antes de lhes dar a lista de vencedores, algumas lições que o Oscar 2015 deixou:

1) Interprete um personagem que sofre de alguma doença cruel em um filme mediano (ou ruim mesmo) e ganhe nos principais prêmios de atuação.
2) Leonardo DiCaprio é zoado mesmo quando não concorre a nada e está quietinho no seu canto.
3) Os mexicanos estão dominando o Oscar (Cuarón ano passado, Iñarritu neste ano). O que torna ainda mais vergonhoso o fato do Roberto Gómez Bolaños, o Chaves, não ter aparecido no In Memoriam.
4) Boyhood levou 12 anos para perder no Oscar
5) Não leve 12 anos para fazer um filme.
6) Linklater ganhará em um futuro próximo por uma comédia romântica filmada em 12 dias para compensar a esnobada deste ano.
7) Na dúvida, chame a Ellen DeGeneres. Ela está sempre pronta para uma pizza, um selfie que tira o twitter do ar e tem um timing cômico excelente.

Não há muito o que se lamentar, afinal sabemos que Oscar não premia a arte e, sim, a melhor campanha. Não é um prêmio de prestígio e, sim, político 😉

Só para não perder o costume: no que concerne às minhas apostas para o Oscar foram 18 acertos mais 3 possibilidades certeiras em 24 categorias. Nada mal.

Abaixo, os vencedores:

Melhor Filme: BIRDMAN
Melhor Diretor: Alejandro González Iñárritu BIRDMAN
Melhor Ator: Eddie Redmayne A TEORIA DE TUDO
Melhor Atriz: Julianne Moore PARA SEMPRE ALICE
Melhor Ator Coadjuvante: J.K. Simmons WHIPLASH
Melhor Atriz Coadjuvante: Patricia Arquette BOYHOOD
Melhor Roteiro Original: BIRDMAN Alejandro G.Inarritu & Cia
Melhor Roteiro Adaptado: O JOGO DA IMITAÇÃO Graham Moore
Melhor Desenho de Produção: O GRANDE HOTEL BUDAPESTE Adam Stockhausen
Melhor Fotografia: BIRDMAN Emmanuel Lubezki
Melhor Figurino: O GRANDE HOTEL BUDAPESTE Milena Canonero
Melhor Montagem: WHIPLASH Tom Cross
Melhor Maquiagem: O GRANDE HOTEL BUDAPESTE Frances Hannon & Mark Coulier
Melhor Trilha Musical: O GRANDE HOTEL BUDAPESTE Alexandre Desplat
Melhor Mixagem de Som: WHIPLASH Craig Mann, Ben Wilkins & Thomas Curley
Melhor Edição de Som: SNIPER AMERICANO Alan Robert Murray and Bub Asman
Efeitos Visuais: INTERESTELAR Andrew Lockley, Ian Hunter & Scott Fisher
Melhor Canção: “Glory” SELMA
Melhor Filme de Animação: OPERAÇÃO BIG HERO
Melhor Filme Estrangeiro: IDA Pawel Pawlikowski – Polônia
Melhor Documentário em Longa-Metragem: CITIZENFOUR Laura Poitras
Melhor Animação em Curta-Metragem: FEAST Patrick Osborne
Melhor Documentário em Curta-Metragem: CRISIS HOTLINE: VETERANS PRESS 1 Ellen Goosenberg Kent
Melhor Curta-Metragem: THE PHONE CALL Mat Kirkby & James Lucas

Andrizy Bento

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